quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

O triste dom de se consolar com os clichés

Escreve Julia Kristeva: "En diagnostiquant dans le totalitarisme un mal radical qui a osé déclarer « la superfluité de la vie humaine », Arendt s’est faite le défenseur de la vie non comme zoé, mais comme bios, ouvrant à une biographie destiné à la mémoire de la Cité. Dans les méandres du vouloir, du penser et du juger, la philosophe cherche à élucider le sens de cette vie coextensive à la pensée, et que les deux totalitarismes du XXe siècle ont cherché à anéantir.
Scandalisée, mais non sans humour, elle se moque d’Eichmann qui « banalise le mal » parce qu’il est «incapable de [le] distinguer [du] bien », et qu’il possède le « triste don de se consoler avec des clichés », « étroitement lié à son incapacité à penser — et notamment du point de vue d’autrui ». Arendt a fait de sa lutte politique contre le totalitarisme un combat philosophique non pas pour la pensée-calcul, mais pour la pensée-interrogation, la pensée-goût, la pensée-pardon."

Esta reflexão é deveras actual. A banalização do mal e a incapacidade de o distinguir do bem são o resultado da aceitação duma dicotomia pensamento-vida. O cogito ergo sum é, na verdade, para ser lido ao contrário, porque só sou se puder pensar, se não me deixar consolar pelo que os outros pensam e impõem.
Impõe-se revisitar Arendt, com urgência, porque os dois totalitarismos não são, afinal, dois, mas os muitos que nos impedem de ser livres, de existir plenamente.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Recordar e sobreviver (a Guerra que afinal não acabou com todas as guerras)

Este é o poema que inspirou o uso da papoila como símbolo dos caídos da I Grande Guerra. Escrito em 1905, e recordado agora que passou o dia do Armísticio (11.11.18), toca-nos ao recordar a esperança que se punha há cem anos no fim dos conflitos que despedaçavam as nações europeias. A Guerra que não acabou com todas as guerras enterrou na lama tantas esperanças, mesmo que as papoilas tenham depois florido.

In Flanders Fields

In Flanders fields the poppies blow
Between the crosses, row on row,
That mark our place; and in the sky
The larks, still bravely singing, fly
Scarce heard amid the guns below.
We are the Dead. Short days ago
We lived, felt dawn, saw sunset glow,
Loved and were loved, and now we lie
In Flanders fields.
Take up our quarrel with the foe:
To you from failing hands we throw
The torch; be yours to hold it high.
If ye break faith with us who die
We shall not sleep, though poppies grow
In Flanders fields.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Andrea d'Assisi (a conquista pelo olhar)

Pintor italiano do Renascimento, dedicou-se sobretudo aos frescos, tendo participado nos trabalhos da Capela Sistina.

O que mais me impressionou na sua pintura foi um quadro em particular, o Retrato de um rapaz, que sendo característico da pintura renascentista no que respeita à cor, luminosidade, jogo do claro/escuro e temática, e obedecendo, em pleno, ao cânone da época, não deixa de ser uma obra única, um trabalho do artista e não só de uma escola.

Há nele uma interpelação especial, uma espécie de intimidade partilhada com o olhar do artista (e não tanto com o retratado), um olhar único e humano, e, finalmente, uma integração pacífica do rapaz (da própria vida, afinal) na paisagem.

A harmonia é atingida mesmo que o contraste do jogo das cores não ofereça, à primeira vista, uma solução cromática equilibrada; o ocre/alaranjado e o verde escuro criam um contraste pouco acessível ou, como dizem os franceses, decalé. Mas o mestre cria a harmonia onde ela aparentemente não surgiria e cativa-nos - é um olhar que só diz aquilo que estivermos dispostos a receber, porque o rapaz interpela, ao irradiar energia. É como se fosse uma Mona Lisa - está ali para nos inquietar na sua serenidade.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Lição espiritual

Madre Teresa de Calcutá citada em francês:
Le Seigneur a besoin de ton vide, pas de ton plein.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Un coeur en Provence

Ainda não conheço a Provença, mas como adoro alfazema e a França, estão reunidas as condições para já gostar antes de conhecer.
Um belíssimo site dá-nos a conhecer aquele ambiente romântico e bucólico da paisagem provençal - http://coeurenprovence.blogspot.com/.


sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Couronnée d'étoiles - saudação a Maria

Nous te saluons,
Ô toi Notre Dame,
Marie,vierge sainte que drape le soleil.
Couronnée d'étoiles, la lune est sous tes pas.
En toi nous est donnée
L'aurore du salut

1. Marie Eve nouvelle et joie de ton Seigneur
Tu as donné naissance à Jésus le Sauveur.
Par toi nous sont ouvertes les portes du jardin
Guide-nous en chemin, Etoile du Matin
2. Tu es restée fidèle, mère au pied de la croix.
Soutiens notre espérance et garde notre foi.
Du côté de ton fils, tu as puisé pour nous
L'eau et le sang versés qui sauvent du péché.
3. Quelle fut la joie d'Eve lorsque tu es montée,
Plus haut que tous les anges, plus haut que les nuées,
Et quelle est notre joie, douce Vierge Marie
De contempler en Toi la promesse de vie.
4. Ô Vierge immaculée, préservée du péché,
En ton âme, en ton corps, tu entres dans les cieux.
Emportée dans la gloire, Sainte reine des cieux,
Tu nous accueilleras un jour auprès de Dieu.

Caillebotte: o impressionista esquecido

Em Paris, descoberta de Gustave Caillebotte, mecenas e impressionista nas horas vagas, esquecido e agora redescoberto numa exposição de obras suas e de fotos de seu irmão.
Não foi um pintor revolucionário, foi deprezado pelo Estado francês (a quem fez importante legado), pelo Louvre e pelas correntes artísticas dominantes do seu tempo, mas deixou uma obra que se descobre com gosto, pela intimidade e intensidade dramática (próxima da solidão de Hoper), pela perspectiva estranha (nem sempre convincente), enfim, por uma modernidade timidamente anunciada.
Uma obra sem pretensões, breve mas intensa.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

O tempo das suaves raparigas

ORLA MARÍTIMA
O tempo das suaves raparigas
é junto ao mar ao longo da avenida
ao sol dos solitários dias de dezembro
Tudo ali pára como nas fotografias
É a tarde de agosto o rio a música o teu rosto
alegre e jovem hoje ainda quando tudo ia mudar
És tu surges de branco pela rua antigamente
noite iluminada noite de nuvens ó melhor mulher
(E nos alpes o cansado humanista canta alegremente)
«Mudança possui tudo»? Nada muda
nem sequer o cultor dos sistemáticos cuidados
levanta a dobra da tragédia nestas brancas horas
Deus anda à beira de água calça arregaçada
como um homem se deita como um homem se levanta
Somos crianças feitas para grandes férias
pássaros pedradas de calor
atiradas ao frio em redor
pássaros compêndios da vida
e morte resumida agasalhada em asas
Ali fica o retrato destes dias
gestos e pensamentos tudo fixo
Manhã dos outros não nossa manhã
pagão solar de uma alegria calma
De terra vem a água e da água a alma
o tempo é a maré que leva e traz
o mar às praias onde eternamente somos
Sabemos agora em que medida merecemos a vida


Ruy Belo,
[in O Tempo das Suaves Raparigas E Outros Poemas de Amor, Assírio & Alvim, 2010]


Paris

Paris não é um cliché. A ela volto cada vez mais seduzida. Tanto e tanto para descobrir a cada regresso. O meu Paris não é o dos turistas, é íntimo, mas também mundano. É uma festa, como sentiu Hemingway.

Deixo aqui a minha lista de preferências.

Quartiers: 6ème, 4ème
Hotel: Bel Ami
Decoração: Comptoir de Famille, Blanc d’Ivoire
Moda: a trilogia da petite parisienne: BA&SH, Sandro, Maje. Et en plus: Manoukian, Bompard, Pierlot, Derhy, Marant, Sessun, Les Petites, Vanessa Bruno
Livraries: La Procure
Sites: My Little Paris, Do It in Paris
As ilustrações: Kanako Kuno, japonesa convertida em petite parisienne









Peónias

Estas flores despertam os sentidos: a cor, o volume, o cheiro enebriam. O espaço habitado pelas peónias é o da beleza.




Grécia





Grécia, ilha de Mykonos. Buganvílias a cair de pérgolas, casas caiadas de branco e azul, cidade cheia de movimento e intensidade, sabor a férias, cheiro a estância balnear. E a luz da Grécia: branca, intensa, aguda, como diz Sophia.

Ressurgiremos ainda sob os muros de Cnossos
E em Delphos centro do mundo
Ressurgiremos ainda na dura luz de Creta

Ressurgiremos ali onde as palavras
São o nome das coisas
E onde são claros e vivos os contornos
Na aguda luz de Creta

Ressurgiremos ali onde pedra estrela e tempo
São o reino do homem
Ressurgiremos para olhar para a terra de frente
Na luz limpa de Creta

Pois convém tornar claro o coração do homem
E erguer a negra exactidão da cruz
Na luz branca de Creta.


Sophia de Mello Breyner Andresen in Livro Sexto

René Gruau

Descubro a beleza e nostalgia das ilustrações de René Gruau e outros grandes ilustradores dos anos 20 a 50.  De forma compulsiva, dedico-me à compilação de ilustrações destes ilustradores, que nos transportam até à magia da alta costura, da elegância, da classe e duma visão eterna do chic.