quinta-feira, 11 de julho de 2013

Fotografia, nova paixão

Descubro dois fotógrafos com visões distintas, mas com uma forte estética. O primeiro, Philip Lorca DiCorcia, americano, parece transpor para o papel fotográfico a melancolia, solidão e poseia da obra de Edward Hopper; o segundo, Matthieu Paley, francês, fotógrafo do National Geographic, converte as fotografias num manifesto de beleza tão intensa, que o papel fotográfico bem podia ser uma tela.
Dois fotógrafos que me fazem encantar por esta arte.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Escrita com classe, à francesa

A língua francesa é das mais belas que há; se dúvidas houvesse, veja-se este excerto, encontrado aleatoriamente, que deve tanto ao talento do escritor como à própria cadência da língua.
Les amants qui n'ont comme horizon que le bleu de leurs yeux.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

O triste dom de se consolar com os clichés

Escreve Julia Kristeva: "En diagnostiquant dans le totalitarisme un mal radical qui a osé déclarer « la superfluité de la vie humaine », Arendt s’est faite le défenseur de la vie non comme zoé, mais comme bios, ouvrant à une biographie destiné à la mémoire de la Cité. Dans les méandres du vouloir, du penser et du juger, la philosophe cherche à élucider le sens de cette vie coextensive à la pensée, et que les deux totalitarismes du XXe siècle ont cherché à anéantir.
Scandalisée, mais non sans humour, elle se moque d’Eichmann qui « banalise le mal » parce qu’il est «incapable de [le] distinguer [du] bien », et qu’il possède le « triste don de se consoler avec des clichés », « étroitement lié à son incapacité à penser — et notamment du point de vue d’autrui ». Arendt a fait de sa lutte politique contre le totalitarisme un combat philosophique non pas pour la pensée-calcul, mais pour la pensée-interrogation, la pensée-goût, la pensée-pardon."

Esta reflexão é deveras actual. A banalização do mal e a incapacidade de o distinguir do bem são o resultado da aceitação duma dicotomia pensamento-vida. O cogito ergo sum é, na verdade, para ser lido ao contrário, porque só sou se puder pensar, se não me deixar consolar pelo que os outros pensam e impõem.
Impõe-se revisitar Arendt, com urgência, porque os dois totalitarismos não são, afinal, dois, mas os muitos que nos impedem de ser livres, de existir plenamente.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Recordar e sobreviver (a Guerra que afinal não acabou com todas as guerras)

Este é o poema que inspirou o uso da papoila como símbolo dos caídos da I Grande Guerra. Escrito em 1905, e recordado agora que passou o dia do Armísticio (11.11.18), toca-nos ao recordar a esperança que se punha há cem anos no fim dos conflitos que despedaçavam as nações europeias. A Guerra que não acabou com todas as guerras enterrou na lama tantas esperanças, mesmo que as papoilas tenham depois florido.

In Flanders Fields

In Flanders fields the poppies blow
Between the crosses, row on row,
That mark our place; and in the sky
The larks, still bravely singing, fly
Scarce heard amid the guns below.
We are the Dead. Short days ago
We lived, felt dawn, saw sunset glow,
Loved and were loved, and now we lie
In Flanders fields.
Take up our quarrel with the foe:
To you from failing hands we throw
The torch; be yours to hold it high.
If ye break faith with us who die
We shall not sleep, though poppies grow
In Flanders fields.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Andrea d'Assisi (a conquista pelo olhar)

Pintor italiano do Renascimento, dedicou-se sobretudo aos frescos, tendo participado nos trabalhos da Capela Sistina.

O que mais me impressionou na sua pintura foi um quadro em particular, o Retrato de um rapaz, que sendo característico da pintura renascentista no que respeita à cor, luminosidade, jogo do claro/escuro e temática, e obedecendo, em pleno, ao cânone da época, não deixa de ser uma obra única, um trabalho do artista e não só de uma escola.

Há nele uma interpelação especial, uma espécie de intimidade partilhada com o olhar do artista (e não tanto com o retratado), um olhar único e humano, e, finalmente, uma integração pacífica do rapaz (da própria vida, afinal) na paisagem.

A harmonia é atingida mesmo que o contraste do jogo das cores não ofereça, à primeira vista, uma solução cromática equilibrada; o ocre/alaranjado e o verde escuro criam um contraste pouco acessível ou, como dizem os franceses, decalé. Mas o mestre cria a harmonia onde ela aparentemente não surgiria e cativa-nos - é um olhar que só diz aquilo que estivermos dispostos a receber, porque o rapaz interpela, ao irradiar energia. É como se fosse uma Mona Lisa - está ali para nos inquietar na sua serenidade.